quarta-feira, 28 de maio de 2008

ESSA COISA QUE NÃO TEM NOME I

A&G

- eu conceituo as pessoas fáceis! condensar você é esperar que as manias e peculiaridades se repitam pra saber quais são perenes, mas isso nem sempre acontece...
- comece com um acróstico, que tá lindo:
Gauchê
uRna eletrônica
Ana Raio
Zé Trovão
Igreja barroca
Etc
açúcar cristaL
fArinha de trigo Nita
- mas você não confirma nenhuma impressão, é sempre surpresa

UMA COISA QUE NÃO TEM NOME II

Dez/2007. Nesses dias pela manhã, de verdade, entrei na tua cegueira. Apoiei-me nos teus braços com meus passos lentos. Tateei seguindo o teu olfato. Foram trinta dias sem você e quatorze lado-a-lado. Eles queriam comer, eu queria dançar. Eles queriam se banhar, eu não queria ver a barriga aberta. Eles queriam voltar pra casa, eu queria sair da minha. Eu pontuei todos os parágrafos. Depois apaguei todos os rascunhos. Eu vi teu choro. Você provocou o meu, o dela, o deles.
...


essa coisa é o que somos

segunda-feira, 26 de maio de 2008

DOIS MAIS DOIS SÃO CINCO

é isso aí minha gente, engoli um tonel de activia. e tudo por causa da numerologia. 14, 14. veja lateral esquerda e acabe com suas dúvidas desse lado do hemisfério.

TODOS OS NOMES

picasso casou, usou terno no cartório e fotografou o melhor momento. outros dois voltaram a namorar, ela: dedos de pianista, ele: porte de Frejat. rhiéle mantém os dedos de molho após a queda. amanda deve estar de blusinha palha de lã. caio baba em lucas que chegou num dia de sol de rachar sertão de joão cabral. toninho bate forte no solar da fossa. fernando e sua barba por fazer está sentado ao lado de aspones que ouvem fm. ju está no ônibus. elinaldo deve estar reclamando da água fria que lava seu rosto neste momento. renato, pelo jeito, rola na cama encostada na parede. letícia vende epocler a um jovem de 32 anos. lu, thalita e kelly discutem de costas para a janela sobre o novo cliente. lu casou e pensa no prato principal do almoço e em descongelar a carne para o jantar. fer atende com maestria o cliente que acabou de entrar na loja. neco oferece o catálogo da avon para o companheiro de trabalho. iara boceja ao lado do telefone. monique está na fila do crediário. rodolfo marca uma entrevista pelo telefone. paulo brasil encontrou alguém pra falar de glauber rocha. airton acaba de ter uma excelente idéia. pedro cospe. mazé acaba de colocar a caixinha de clorets na bolsa. claudinha diz: sesc birigui, cláudia, boa tarde. talita reiniciou o computador. dani teve um enjôo. márcio branquinho, como um toddynho branco, procura pilhas alcalinas. bru liga para o exterior. sérgio coloca a mão na testa para proteger os olhos do sol. maurício encomenda uma iluminura de martha barros. marco aperta o térreo. celso reclama do speedy e da segunda-feira. micha ouve amy. mel mostra fotos para o amigo ao lado. césar diz: "ai meu deus" enquanto autentica duas cópias e reconhece firma.

estou vivinha da silva, sem meu coração ao menos bater.
tenho cinquentão de uma aposta pra receber. falei e provei por a mais b que a pele é um órgão e o maior deles ainda por cima.

(1984-2004)

eu, você
um tubo de cola
duas tesouras sem ponta
uniformes, impinge, tranças e ki-chute
vá para o canto usar o cone de palhaço
chove no fim da aula e sua mãe vem te buscar
hoje meu coração doeu mais do que os outros dias porque você andou de um lado para o outro aflito (nesse tempo me orgulhava por saber essse adjetivo)
está sem idéias, não desenha e não colore bem
você almoça um prato cheio de couve e mora aqui do lado
voltamos para casa juntos e você encontra derivações irritativas do meu nome
graxa, graviola, gravata
você vai morrer 14 anos depois num carro que não é seu
numa estrada que não é sua, num Estado que você não queria
eu vou espernear ao receber a notícia um dia depois
não vou te ver
vou acender uma vela no cruzeiro do cemitério que não está você
vou perguntar por você
vou continuar duvidando
não precisa falar baixo
gosto de ouvir sua voz daqui de baixo

TVAZ

Sorria, você está sendo xerocopiado. Retrato do artista quando "cara-lisa", cabelos de novela "Que Rei sou Eu", olhar de pincel de Da Vinci, camisa da moda, sabe-se lá a cor e igualmente lisa. Sentado? Em pé? De cócoras? Vivendo como um beatinik na ponte aérea rio-são paulo-curitiba, nas férias. Hoje pode ser visto caminhando de tênis, boné e camiseta de mangas curtas, pela cidade-bairro carioca, pelo mercadinho, pelo bar do Mineiro, pegando na mão de terceiros, indo atender o encanador, o piscineiro e a turma para o churrasco de sábado a tarde, em locais privados do Leblon e na barraca de Acarajé. Tem um time do coração? Ainda ouve Rolling Stones (Stones ou Pink Floyd com orquestra?), no toca-fita do carro? Quais os três pedidos da fita do Senhor do Bonfim, se nem acredita que há um céu com anjos, harpas e trombetas? Me arrasta pelos cabelos e me joga no rio com vida pra eu aprender que só se vive uma vez e que a capital do "tudo pode acontecer", como Paris para os que partem de Angoulême, não fica em outro planeta, logo não precisa de contatos seis meses antes com a Nasa e nem com São Jorge.

Nas melhores casas do ramo, para ser clichê: "Paulo Leminski, o bandido que sabia latim". Autor: Toninho Vaz. (Editora Record) – 1ª. edição, 2000; 2ª. edição, 2005. Biografia do poeta curitibano Paulo Leminski Filho (1944-1989). 378 páginas.

* Foto em rara e única aparição sem barba, como se fazia com formandos do ensino médio.

...

quase uma hora depois...
http://cartunistasolda.blogspot.com/

O MARQUIS VIROU JAVERT CATORZE HORAS DEPOIS

O Marquis veio tirar minhas mordaças. De todos os lugares. E eu nem imaginava que seria hoje. Onde havia orifícios, havia mordaças. E onde havia mordaças ele foi arrancando com uma superlativa sutileza de quem chacoalha lenços de seda na brisa dessas tardes em que uns dançam, contabilizam e dormem e outros agonizam, tossem e morrem. Tenho um orifício a menos, mas só até esta sexta, às sete.

"Hoje estou apenas para você, Marquis, e não há nada de tortura nisso. Nunca tinha pensado em ter um título. Mas quis ter um desde desde que soube que Rabicó era um marquês. Depois vieram todas aquelas personagens de Balzac, em camarotes durante intervalo de óperas e eu passei a recusar essa idéia. Mas ainda prefiro-os a sobrenomes com algarismos romanos. Mas ainda tenho dúvidas sobre aderir a seu título. Ontem foi pouco para saber o que você pretendia com ele. Um adorno, em você cai bem como um chapéu e em mim como uma presilha, dessas que se guarda em porta-jóias, com a afeição de uma jóia de família"

Assinado: a normalista com letra maiúscula que acho que me tornei.

domingo, 25 de maio de 2008

PAC MAN

Ontem, éramos eu, um travesseiro para dois, um nó na garganta, Love Songs que subiam do apartamento 214, o che-chec do escovão vizinho e um especialista em onomatopéias com ojeriza a conflito, que sempre estraga a foto. Tinha um filme que eu não queria, meu poeta com uma avenida inteira pra chamar de sua e pouca água.

Hoje, eu, minhas meias vermelhas, um Itamar Assumpção inteirinho e vertigem em oito, feito aqueles escovões de limpar chão de fast food, quatro edições atrás do seu jornal e uma tentativa de insônia.

"Sofrer também é merecimento" tá dizendo a marchinha...

terça-feira, 20 de maio de 2008

AVISO

De volta no próximo equinócio ou enquanto durar o estoque.

sábado, 10 de maio de 2008

MAMÁ


Maio/89
Escola Infantil Curumim (dois parques, massas de modelar, uniforme vermelho, bolinhos de terra)
Título: Retrato da Mamãe Quando Coisa
Artista-Mirim: Graziela, 5 (senta com as pernas abertas, usa botas ortopédicas e faz perguntas a todo momento. Gosta de dançar em festa junina)
Características: portadora de pouca habilidade para manifestar sentimentos maternos através da pintura. Carência comprovada anos depois, quando compararam os estados do mapa do Brasil, coloridos por ela.
Considerações: Futuro promissor estimulado por dez dias de leitura intensa (Tatiana Belinky, Irmãos Grimm, Hans Christian Andersen, Monteiro Lobato), em decorrência de uma caxumba. Na época, ela revezava dois agasalhos-xodó, um uva, outro rosa. Posteridade interrompida por uma loira de botas brancas assessorada por uma baixinha vestindo colete.
Efeitos: Cresceu imbecil, perguntando o que era crase e acento agudo, no segundo ano escolar e S/A, no terceiro.
Quem viver verá: Uma cigana dessas, que nem usam dente de ouro, disse que o rabo da pequena poderá virar pra lua.
Dito Popular: "Ama a mãe dela e as possibilidades que têm de ir a Roma com sua boca"

quinta-feira, 8 de maio de 2008

ATENÇÃO PRA PALAVRA DE ORDEM...

Mamá

Hoje fiz companhia pra um tipo de alpargatas, por mais de seis horas. Montamos uma campanha, ele tinha febre e eu tédio. O suor dele escorria por uma pilha de livros que ele fez de travesseiro. Nas primeiras três horas, ele sussurrou três versos fora da ordem. O sereno da noite murchava nosso cabelo, deixava as folhas suando e as roupas com vitiligo, feito os troncos de uma jabuticabeira.


Já são dez horas e já é dia oito. Hoje seria o primeiro dia da sua manifestação com pantufas e calça modelo pijama para uma cidade que nem o vê passar. Nem quando ele pede um café preto em plena avenida com treze graus. Está atrasado, bem sabe, mas faz parte do seu establishment tirar o relógio e a folhinha da cozinha. Ele se formatou num filme cult, visto há muito tempo. Uma trilogia com uma cena que fazia três malas rodar em volta duma esteira por 13 minutos.


É sua revolução particular, sua contestação muda de quatro em quatro minutos. Mesmo dormindo e murmurando vez ou outra ele está distribuindo panfletos em todos os comércios:

"A forma panfletária é para acabar com toda e qualquer espécie de formalismo, moralismo, conservadorismo, -ismos, neonazistas, neo-liberais, paga-paus, patricinhas, boys, oportunistas, fanáticos religiosos, falsos profetas, não-filhos de Gandhi, clichês, pré-establishment, jovens imperialistas, porcos-chauvinistas, militantes de Maluf, bicho-grilos ociosos, padrão Globo de qualidade..."

Lá, sozinha, eu fiquei lutando pela popularização da palavra idiossincrasia e pela instituição de vocábulos celso pitta nas cartilhas do ciclo básico. Agora leio de trás pra frente os títulos nos quais sua cabeça repousa.

Dê lembranças a todos, deixe todas as minhas coisas à vista

Hasta
Yo

quarta-feira, 7 de maio de 2008

PARA GRAVAR NUM DISCO VOADOR

Saí
Fui viver este mês em 68
Descolei alguns amigos que você acharia um pouco estranho, mas minha vó, estou certa de que os acharia conceituais
Eles não me chamam de broto
Eles fazem juras jurando primeiro a Lenin mesmo sabendo que eu estive com Marx uma vez e meia e com Engels, uma só
Ainda não tenho pseudônimo
Tem sido assim
Pegamos carona na rabeira de uma sigla que não posso dizer agora e por isso viajaremos com anões de jardins e rapazes de capuz de saci, durante nossa viagem
Também somos afiliados a mil e uma coisas e temos sintonia suficiente para fazer parte de aglomerações
Fumei incenso antes de sair, aguei suas plantas e botei feno na minha marmita
Não vou sentir frio e sede, fome decerto
Levei os mesmos poemas que sempre leio pra viagens lentas e aquele hino que eu acabei de baixar aqui
"Como um objeto não identificado, como um objeto não-identificado..."
Ontem, Valisières, tamanho 40, estiveram em chamas numa fogueira em praça pública, junto com outras peças M e G
Nem sei se vamos dançar pouco pelo caminho, mas trouxe vestidos folgados
Fora isso eu tenho muitas certezas
Muito mais do que se estivesse vivendo em maio de 2008
(você saberá de mim nos próximos dias, pelas três linhas de pequenos postais ou pelas manchetes dos jornais)
Yo

domingo, 4 de maio de 2008

MALWEE, NÚMERO 16, USAR SABÃO NEUTRO

O cão tá parecendo um sem dono, dormindo com a fuça dentro de um Luiz XV mofado, resgatado ainda há pouco do armário. Ele encontrou o vão entre a roda da cadeira e o sapato jogado no canto e se acomodou. Ele só dorme no vão e com a fuça também acomodada.

É o segundo dia da trinca: meia, moleton usado desde 97 e creme para as mãos. Não vejo muitas perspectivas num dia como este.

Em dias assim, não enxergo nada adiante. É o fim da minha vida em dias como esse. É como o último capítulo do livro que sei que não terei mais tempo de ler nessa vida, o último dia da festa que começou na quinta-feira, a despedida na casa dos tios, em janeiro de 91.

Em dias assim, eu morro sem dor. Não sirvo para muita coisa. Não sei tossir, não sei chorar. Não sei retribuir sorrisos. Não abano a mão na rua. Não espero pelo que sei que vem. Não acho bonita as broas de milho. Nem gizes de cera comestíveis me trariam qualquer boa notícia. Menos ainda incenso para uso individual, a criação que espero há séculos.

Sou morta em dias como esse. É assim desde que eu passava as tardes com Adora, Simoninha e Pepita. Quero ficar morta hoje. Ontem foi um dia feliz, porque comecei a fechar um ciclo lamentoso. Mas em vez das gastas chaves de ouro, vou usar um bisturi.

Mas enquanto esse inverno garoante não passar, com noites caindo ainda às seis, continuarei morrendo nesses dias. Eu quero uma coisa que ninguém é capaz de me dar. Ninguém nem pode saber o que eu quero. Eu quero coisas que queria desde o tempo que conversava com Adora, Simoninha e Pepita.

Eu nunca pedi bonecas duradouras, meus sonhos sempre foram os mesmos. Eu troco algumas coisas por essa coisa que quero tanto. Eu leiloo certas coisas por essa coisa que quero agora. Ordenes e farei, pois hoje estou morta aqui. Tem uma coisa doendo. Tem uma coisa lembrando de outra que aconteceu. A capa do livro, nenhuma música e três mudas de roupa de cada um para lembrar e nenhuma confidência desesperada de quem age com paixão pela última vez.

Você é capaz de adivinhar? Eu não sou capaz de falar o que eu estou querendo. Já fui capaz de escrever cartas ao nove e dizer que queria ainda ontem, mas hoje não tenho coragem. Pode ser que eu queira menos daqui a duas semanas, pode ser que eu fique doente porque quero muito mais, pode ser.

Hoje quero ter cólica, tomar morfina e acordar amanhã às sete com febre. Hoje meu suicídio é com arco e flecha. Eu quero uma coisa que duas pessoas têm.

Lembrava de já ter tido um dia assim, com pouca ou nenhuma perspectiva e um pacote até a boca de tédio. Era um verão do ano seguinte ao que mestruara pela primeira vez. Deitada de bruço no alto de um escorregador, de um parquinho parecendo a casa dos três porquinhos que o lobo bobo assoprou pela segunda vez, ela pensava se nos próximos dez anos teria um outro dia assim, chinfrim.

Pensou em Collor, se a vida dela seria mais engraçada do que a dele. Se poderia ter a vida que ele tinha, pensou em um monte de coisas, pensou. Mas pensou principalmente no Collor e naquela faixa verde e amarela com uma dália na ponta, que ele usava na posse ou no sete de setembro.

Em um dia como este, há muito tempo, ela viu um dos filmes que mais gostava pela segunda vez, mas era um sábado e não uma quinta. Há muitas quintas, ocorridas dois anos atrás, ela mantinha encontros frenéticos, alimentava paixões capengas, encarava sem adeus as despedidas e nunca tinha dito que gostava. Por causa disso, somatizou ansiedade na boca do estômago e sempre vomitava nas sarjetas, antes de ir pro abate.

Perdi um dia, não vi a cara da rua. Quando fizer o saldo dos anos, revendo um calendário que ficou ali por acaso, não terei nada para contar sobre esse dia. Nenhuma violência cometida contra mim, nenhuma conferida no holerite do mês passado, nenhuma coisa que valesse para os dias seguintes desta vida...

Não me arrisco em dias assim. Uso poucas palavras: tudo bem e tanto faz. Cheguei a sair de casa nesse dia tão assim. Foi pra comprar meias vermelhas de algodão com fim terapêuticos, eu que inventei essa calmaria. Cruzei também a porta da frente para saber onde irei plantar as sementes de coentro que descolei com um vizinho.

Hoje é o último dia na vida de um quinzilhão de pessoas e elas só serão avisadas mais tarde. Neste momento, elas estão apenas preocupadas com a roupa que não seca no varal, com o motor do carro e se vão casar. No dia que era pra ser o último dia da minha vida, eu fiz bolo de limão e lamentei pelas coisas dos outros.

Amanhã vou saber se sou uma dessas. Mas já sou uma delas hoje...