segunda-feira, 26 de maio de 2008

(1984-2004)

eu, você
um tubo de cola
duas tesouras sem ponta
uniformes, impinge, tranças e ki-chute
vá para o canto usar o cone de palhaço
chove no fim da aula e sua mãe vem te buscar
hoje meu coração doeu mais do que os outros dias porque você andou de um lado para o outro aflito (nesse tempo me orgulhava por saber essse adjetivo)
está sem idéias, não desenha e não colore bem
você almoça um prato cheio de couve e mora aqui do lado
voltamos para casa juntos e você encontra derivações irritativas do meu nome
graxa, graviola, gravata
você vai morrer 14 anos depois num carro que não é seu
numa estrada que não é sua, num Estado que você não queria
eu vou espernear ao receber a notícia um dia depois
não vou te ver
vou acender uma vela no cruzeiro do cemitério que não está você
vou perguntar por você
vou continuar duvidando
não precisa falar baixo
gosto de ouvir sua voz daqui de baixo

Um comentário:

Renato Rodrigues disse...

É incrível o que o tempo faz com a gente. Quantas alegrias, quantos momentos incríveis fazem as malas e vão morar no universo das lembranças. Crescemos e a simplicidade dá lugar a regras e tabus. Pessoas iluminadas perdem o brilho de forma tão banal. Quando pequeno adorava conversar sobre morte. Velho sonho de morrer dormindo. Mas os caminhos da vida não se formam, eles aparecem e nos atropelam. E todos os amigos brilhantes que antes eram eternos,se materializam em forma de recordações só para falar um palavrão proibido, uma musica do momento ( hey Jude em uma versão em português) fotografias tiradas com um filme Kodak, e tantos outros critérios de valor.
Falar nessas coisas me dá uma dor no peito...