quinta-feira, 8 de maio de 2008

ATENÇÃO PRA PALAVRA DE ORDEM...

Mamá

Hoje fiz companhia pra um tipo de alpargatas, por mais de seis horas. Montamos uma campanha, ele tinha febre e eu tédio. O suor dele escorria por uma pilha de livros que ele fez de travesseiro. Nas primeiras três horas, ele sussurrou três versos fora da ordem. O sereno da noite murchava nosso cabelo, deixava as folhas suando e as roupas com vitiligo, feito os troncos de uma jabuticabeira.


Já são dez horas e já é dia oito. Hoje seria o primeiro dia da sua manifestação com pantufas e calça modelo pijama para uma cidade que nem o vê passar. Nem quando ele pede um café preto em plena avenida com treze graus. Está atrasado, bem sabe, mas faz parte do seu establishment tirar o relógio e a folhinha da cozinha. Ele se formatou num filme cult, visto há muito tempo. Uma trilogia com uma cena que fazia três malas rodar em volta duma esteira por 13 minutos.


É sua revolução particular, sua contestação muda de quatro em quatro minutos. Mesmo dormindo e murmurando vez ou outra ele está distribuindo panfletos em todos os comércios:

"A forma panfletária é para acabar com toda e qualquer espécie de formalismo, moralismo, conservadorismo, -ismos, neonazistas, neo-liberais, paga-paus, patricinhas, boys, oportunistas, fanáticos religiosos, falsos profetas, não-filhos de Gandhi, clichês, pré-establishment, jovens imperialistas, porcos-chauvinistas, militantes de Maluf, bicho-grilos ociosos, padrão Globo de qualidade..."

Lá, sozinha, eu fiquei lutando pela popularização da palavra idiossincrasia e pela instituição de vocábulos celso pitta nas cartilhas do ciclo básico. Agora leio de trás pra frente os títulos nos quais sua cabeça repousa.

Dê lembranças a todos, deixe todas as minhas coisas à vista

Hasta
Yo

2 comentários:

Renato Rodrigues disse...

Renato russo disse:
"Mudaram as estações e nada mudou"
Embora essa crítica tenha passado despercebida por muitos e virado uma canção de amor, vou utiliza-la para marcar o que penso.
Anos 60.
Muita revolta e esperança por dias melhores
2008.
E o que mudou?
Os personagens mudaram de nome e
esse lance de faixas, gritos por liberdade e conflitos com a polícia já está fora de moda. O lance agora é o conformismo. A revolta tem medo e a LIBERDADE perdeu a voz.
Geraldo Vandré? que nada.
Se o festival fosse hoje a musica de maior repercussão seria alguma de alguma banda EMO e seria tudo lindo. tudo divino maravilhoso.
viu só?
Mudaram as estações...

Anônimo disse...

Não temos tempo de temer...
Mundo mundo, vasto mundo...
E eu passarinho...
Eles estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças...
Um prato de louça ordinária não dura tanto...
Ainda viro esse mundo em festa, trabalho e pão.