domingo, 13 de abril de 2008

DE MAGAZINE LUIZA A TERREIRO DE UMBANDA

Não vim aqui para explicar nada, nunca. Fui feita para compreender, sempre. Não me peça mais informações, pistas e bis. Se as palavras saíram naquela ordem e com aquela métrica, assim era pra ser. Desperdiço palavras quando falo e economizo quando escrevo.

Não me peça para dizer algo combinado e para fingir que não é comigo. Não tente me convencer de algo que é certo que eu vou me convencer sozinha poucos minutos depois que desistiu de me convencer. Os créditos são seus e isso não é intencional.

Me peça uma segunda chance, um beijo no olho, o modelo da bolsa de melancia e o lápis de olho emprestado. Caneta Bic, nem pensar.

Não olho para o chão. Sou assim desde que nasci e nem sabia que era para ser assim. Claro que não faço só o que eu gosto, o mundo não é só meu. Tem uma penca de desafortunados querendo ter sua porção de chefia.

Não fico à vontade com copos d’ água, monólogos e pessoas que sabem o que fazer sempre. Se duvidar, até gaguejo. Gosto e (re) gosto das coisas na proporção exata que odeio e (re) odeio. Tenho a mania de querer entrar nas coisas que me fazem bem.

Sou perita em desapontar. Sou muita gente ao mesmo tempo. Diria até que só sei quem sou realmente quando ao mesmo tempo sou várias. Também me reconheço em todos os relacionamentos amorosos. É quando me amo mais. É talvez a única vez que me amo como deveria. Me amo quando alguém também me ama, acabei descobrindo essa coincidência.

Pauso filme para tirar conclusões com a janela ou com a cabeceira da cama e nunca consigo fazer isso parada. Uma vez enquanto os créditos subiam no documentário do Cartola, fiz observações com o South Park de pano.

Já andei de ônibus tentando entrar num poema do Manoel de Barros, era sobre o vento. Um dia ganhei o título de boneca de pano de duas pessoas diferentes, mas por razões iguais. Não conto nem fudendo .

Ri três dias seguidos enquanto tomava banho, só de lembrar do encontro com o sobrinho do Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade...

Chamo as pessoas pelo nome quando elas têm um apelido. Olho no relógio três vezes antes de guardar a hora. Dispenso pérolas e fico com as contas de madeira, mas não é sempre.

Danço conforme a música desde que ela não tenha rimas descabidas e exija encostar a vulva na boca da garrafa.

Aos sete anos tentei construir um bar na esquina de casa, onde venderia bebidas e Prestígio, porque o cara que usava chapéu e espora e por quem eu tinha me apaixonado bebia num bar de rodoviária com aquela arquitetura. Fiquei interessada nele algumas horas, depois passou. Passou na velocidade da disposição que eu tinha para arrumar minhas coisas e dizer para a minha mãe, aos oito, que estava me mudando dali.

Ler tanto na infância me valeu finais de histórias mais originais do que o das outras crianças. Pela primeira vez na história da minha vida, a contar da hora em que eu nasci numa manhã carnavalesca de 1984 até este momento que procuro caracteres que descansem minha insônia, fui boa em alguma coisa.

Também teve aquela vez que enquanto todos mostravam suas impressões do Sítio do Pica-Pau Amarelo na cartolina de pouca metragem, eu corri pegar um sabugo e enfeitar com pernas, braços e cartola. Recebi homenagens, pompas e circunstâncias. No outro dia, parecia que o Visconde de Sabugosa tinha entrado numa linha de produção, apareceram cópias infinitas. Foi aí que comecei a ditar certas modas. Gostava tanto que cada dia tinha coisa nova no pedaço.

Não sou muito boa em nada. Mas o dia em que falar de trás pra frente for visto como genialidade, estarei certamente no livro dos recordes por recitar em 13 minutos, “Os Lvusíadas” na ordem inversa.

Não precisarei trabalhar feito um burro de carga para ter as coisas que materialmente julgo mais valiosas: um chapéu cloche, um coqueiro um metro e meio maior do que o muro e uma horta de manjericão. E se casar como manda o figurino, será só para sair com o bonito chapéu na foto oficial.

Só um balde de jabuticabas é capaz de me comprar. Me vendo, me dou e me troco por um balde de jabuticabas. Gosto tanto dessas bolinhas, que um dia uma grudou no vestido que eu mais gostava e eu a deixei ficar por lá. Uso o vestido mesmo assim.

Gosto de trincas. Ménage à trois e triangulo amoroso, não sei ainda. Talvez sexo, drogas e rock and roll; cama, mesa e banho; barba, cabelo e bigode; Bach, incenso e chocolate; eu, tu eles.

Tenho amigos que me carregam de guarda-chuva numa noite de céu estrelado até o bar da esquina lotado de estudantes; presenteiam com uma sacola de sonho de valsa conjugado; me chamam pra tirar a roupa na praça Doutor Gama numa terça-feira às duas da tarde; vão pra balada com a roupa do trabalho do dia todo, porque querem ficar parecidos comigo; falam cada sílaba do meu nome pausadamente e diz que um dia vai se cansar de mim, mas só daqui a quatro anos e mesmo sendo advogado de um grande latifundiário, aceita ser visto comigo; compram doces de boteco para entrar no ringue com minha TPM...

Se quiser levar adiante, não peça pela bula.

10 comentários:

Anônimo disse...

Gra, como seus texstos são multi-enviezados, por uma questão de economia literária, vou comentar só aquilo que me diz respeito, ok?
Es uma jornalista muito inteligente, perspicaz (é assim que escreve?) sei lá mais o que... agora esse seu lado comunista, de fato é um tanto quanto complexo perante a nova conjuntura política que se verifica no mundo.... até cuba daqui a pouco ta aderindo ao Capitalismo selvagem... e vc ainda nessa de "Viva Ernesto Che Guevara"... Eu, como um malufista convicto, anti-mst... defensor convicto das classes mais abastadas, me vejo de fato, em certas ocasiões, impedido de ser visto em sua companhia em locais públicos... entende né? pega mal... mas ainda assim, compensa eu passar por cima de minhas convicções, e fazer vistas grossas a seu radicalismo marxista, pois sua companhia é uma delícia e sua inteligência encanta.

Anônimo disse...

"Quando acho que fui criativo, descubro que apenas fui uma cópia!"
Neto Lisboa (1984 - 2096)

Anônimo disse...

Dizem qeu não existem psiquiatras melhores que uma caneta e um papel. Tampouco melhor tempero pra escrita que um pouco de bile fervida em fogo interno de sentimentos. Deixe ferver por um bom tempo para apurar e sirva.

Eis aqui um bom petisco literário. Da psicologia do esrito, só falo no pé do ouvido, pra não espalhar... vai que acerto d porque de "!boneca de pano"...

Erico

Anônimo disse...

Ahhh eu fico cada vez mais embabacado ao ler um texto teu. Como pode ter uma mente tão genial assim para fazer escritos como estes?
Coisas que não sei explicar!!!
Bjos Grá!

Blog da Joana Paro disse...

Querida... você é mesmo genial! Borda as idéias em rendas e pérolas de encantar e causar estranheza. Adoro as idéias e a transparência. Sobretudo a coragem de ser!
Beijosssssss com carinho.

Thaís Morrison, disse...

Adoro ler tudo o que escreve, concordando ou não; e adoro você, mesmo não tendo tido tempo de conhecê-la o bastante e conversar horas... nem lembro quando percebi que te admirava, só sei que quando vi, queria sempre ler o que escrevia...
Mas para que tanta explicação... piscianos se entendem através das águas!!!
Besoss

Anônimo disse...

Jesus!

Vai demorar séculos para Oxumpetinha sair do meu corpo depois dessa profusão de sentimentos de blogueira. Não se me excita ou me intriga a paixão de infância, posso afirmar que ménage à trois é bom demais, e que me (des)encontro também nos muitos eus de mim mesmo.
É confuso, mas é bom demais ler-te assim, toda nua de auto-preconceitos. Quanto as rimas e as vulvas, só quero relembrar um epsódio: "Logo embaixo da cintura, é a bunda! Subiu a temperatura, óh, Raimunda!"

Bjokas!

do Sobrinho do Misael

Anderson Augusto Soares disse...

Encontrei o teu blog por acaso, adorei. Você discorre sublimemente. Tem bom gosto e discrição. Connhecimento de mundo e gostos parecidos com os meus.
Ao ler teu blog, senti que não perdi tempo.

Eduardo Martinez disse...

Ola Graziela! Lembra de mim? (Facul, SESI,...)

Primeira vez que entro no seu blog (achei pelo da Talita), gostei muito.

Voltarei mais vezes..

abç

Ventura Picasso disse...

Os testemunhas da tua sabedoria que estão acima, comprovam com lucidez o que falamos ainda a pouco. Voce me lembra Stanislaw Ponte Preta que saiu com esta:"Quando acabou aquele velório teve-se a impressão de que o morto ficou mais aliviado". E voce sai com esta:"compram doces de boteco para entrar no ringue com minha TPM". A tua cancha pra montar essas 'ocorrências' é espetacular. Podes crer, afirmo convicto e sei o que falo. Plagiando o meu preferido SPP:"Na crista da minha onda ninguém pega jacaré". Cuidado com minha opinião, sou suspeito estou amando...bjussssssssssssss