quarta-feira, 16 de abril de 2008

PROCURA-SE UM UMBIGO DESESPERADAMENTE...

Olá, Ziraldo.

Eu sou Graziela, tenho 24 anos e escrevo pra dizer que o umbigo Rolim fugiu do meu corpo há cinco meses. É certo que ele vai voltar. Mas o que me preocupa é saber que ele não será o mesmo que eu apoiava os livros que li quando era bem pequenininha e nem aquele que a minha mãe me ensinou a limpar com um pouquinho de álcool. E olha que naqueles tempos nem se ouvia falar em álcool gel.

Sabe Ziraldo, descobri há pouco tempo que o senhor é de verdade. Não foi na época que eu encontrava seu nome em letra de forma nas capas daqueles livros que ocupavam o segundo andar da prateleira que ficava na biblioteca municipal, duas quadras acima da minha casa.

Naquela época eu nem sabia que você era de verdade, porque não tinha visto muitas pessoas usarem cabelo de algodão e escrever sobre as listras que apareciam na televisão sempre às cinco horas da manhã.

Nem era pra eu dividir isso que me aflige com o senhor, mas sinto como se fôssemos amigos há muito tempo. Escutei sua voz baixinha enquanto lia coisas que o senhor criava quando eu era uma menina e vi que o senhor era meu amigo e poderia me ajudar a ter notícias do Rolim.

Explico: Meu intestino, o Justino (se o senhor tivesse batido na porta da pele e entrado no corpo humano naquela série do Juvenal e Rolim, talvez seria esse o nome do delgado e do grosso) foi perfurado num acidente. E para que eu continuasse a viver ele teve que ser costurado às pressas.

Mas antes disso, a barriga que Rolim habitava há 23 anos teve que ser rasgada. A trilha do corte passou pela casinha pequena e aconchegante do meu umbiguinho. Estou certa de que Rolim fugiu de medo quando viu que o bisturi ia passar por cima dele. Eu não tive tempo de dizer que ia ficar tudo bem com a gente porque não sabia que ele não estaria mais ali depois que eu acordasse muitas horas depois da cirurgia.

A pinta que divida o aluguel da minha barriga com Rolim tem saudade dele. Da época, em que juntos, sonhavam em enfeitar a Garota de Ipanema. Ela ficou aqui e mesmo tendo que conviver com uma espécie de espinha de peixe produzida por agulha e linha, ela se sente bem porque eu digo a ela que é o mapa do Chile que está escondido na minha barriga junto com um monte de poemas do Pablo Neruda. E ela fica feliz porque assim pode ler coisas exclusivas o dia todo enquanto espera por Rolim.

Mas eu escrevi mesmo essa carta para avisar que se ele passar aí pela sua mesa, assustado, o senhor pode fazer o favor de pedir para ele voltar pra casa? Avise que o pior já passou e que assim que o mapa do Chile for embora junto com outro bisturi, ele vai ter a chance de ser o meninho da Garota de Ipanema.

Muito obrigada, Ziraldo. Já me sinto melhor por ter dividido essa história com o senhor. Espero notícias suas e dele.

Graziela Nunes
05 de abril de 2008
Bilac – São Paulo

PS: Não colocava uma carta no correio desde que a Danone parou de pedir pra gente enviar rótulos de iogurte para concorrer a mountain bikes e patins. Mas está foi enviada há poucos dias e para o endereço do destinatário, na rua Baronesa de Poconé.

8 comentários:

Anônimo disse...

gra... to tão lotado de coisas pra fazer, afinal, como vc sabe, sou um cliente uniclass... e advogado dos latifundiários...
Mas.... devido ao seu inenarrável prestígio junto à sua pessoa, a hora que avistei sua presença, arrumei uma vaga em minha agenda para poder comentar nesse seu blog....
Então é o seguinte... acho que vc ta precisando mais ler a Veja... pq esses seus textos são de um nível intelectual elevado demais para esse pobre mortal que agora te escreve... isso é coisa para Roberto Cabrini depois de ter cheirado umas 10 carreiras... no mínimo....
Portanto, me abstenho de comentar um texto procurando umbigo... prefiro procurar confusões pela vida afora...
Ah, já saiu o seu crachá como afiliada do PSDB?

Anônimo disse...

Ja pensou se o Ziraldo vira um velhinho gaga taradao (do tipo que eu espero ser), e diz.. Olha, guardei o Rolim para voce.. Mas como alimentei, aguei, ele virou um Rolimzão?

Zizuis! O que tu faiz? Parte para o abraço, ou recusa educadamente?Eu..rico

Renato Rodrigues disse...

Puxa vida!

ZIRALDO

Grande Ziraldo.

O homem que tem o poder analisar a anatomia do ser humano e fazer comparações divertidíssimas

Você já viu ele comentando que o formato da bunda mostra a personalidade de cada um?

Eu também achava que esse Tal de Ziraldo era fictício.
Certa vez, briguei com um amiguinho de escola que ele era o pai do pererê. de fato é, porém, na minha imaginação ele fumava charuto e também só tinha uma perna.

Ahhhh!! Eu nunca ganhei uma bicicleta....

Anônimo disse...

Vc é foda. Inferno, outro dia eu escrevi um post enorme, superbacana, mas vi agora que não entrou. Hj to sem inspiração, ta? Bjoooo

Anônimo disse...

OLha... essa série "fratura exposta" está se saindo melhor que a encomenda...
Sei que o Ziraldo é de verdade há muito tempo, meu avô rezava o terço excomungando a galera do Pasquim (ainda bem que temos vida própria, não?)...
Pode acreditar, surpresas virão...

Ventura Picasso disse...

Gra, não sou desse tempo, e sendo mais velhinho lembro do Ziraldo no Pasquim(1969) e fui até Bundas
(1999). E o nosso amigo Ziraldo explica:"Quem coloca a bunda em Caras, não coloca a cara em Bundas". Com certeza, já prevendo o que aconteceria com o Partido da Imprensa Golpista-PIG. Estou com você que é como ele: avacalha para dizer coisas sérias.
Estou amando os textos que você produz.
bjussssssssssssssssss

Anônimo disse...

Graziela,

tô na sintonia.

é tudo nosso!

Bj.

Sérgio Vaz
Cooperifa

Anônimo disse...

Olha Sr. Ziraldo,

estou extremamente emocionado com a exposição dos sentimentos da minha amiga.

Se o umbigo dela não apareceu por aí, por favor, dê conta de encontrá-lo. Eu é que sei a barra por que passa aquela barriga.

Sacou o intelecto da garota, né? Qualquer suburbanazinha estaria gritando: "Ai, meu umbigo" (choro desesperado) "Ai, meu umbigo". Graziela não... não, senhor! É poeta até no desabafo!

Se preciso for, abaixo-assinado faremos em favor de Rolim, apoio das obras do Sr. Ziraldo e de tantos outros.

No mais ver,

César (também sobrinho de Misael)