segunda-feira, 21 de abril de 2008

ARTURO BANDINI

Obrigada por tornar ainda mais retalhado meu abril despedaçado, desgraçado, arremessado, mal trapilho e mal vestido. Agradeço porque é justo colocar as suas angústias, que também são minhas e as minhas, que também são suas, num saco sem fundo e esperar pelo momento em que elas irão transbordar.

Aquele papo de que pra tudo dá-se um jeito eu tô careca de saber e você sem unhas de tanto acreditar nisso. Mas o certo é que essa espera pelo trem que não corre porque suas passageiras não tiveram coragem de abanar o lencinho branco na estação, colocar a cabeça pra dentro da janela e olhar pra frente sem uma gota de lágrima está me colocando cada dia mais pra dentro de mim, tirando o sabor de todas as comidas e aumentando a afeição pelo travesseiro e pelo quarto escuro.

Até o apreço pelas unhas coloridas de rosa choc, que estava segurando a onda dessa temporada fracassada, foi embora ontem à tarde. Nessa atual conjuntura, como se acostumou a dizer, aquele interesse casto por sua mão esmaltada tinha uma explicação tão íntima quanto a real opinião sobre a própria aparência.

Você escreveu querendo saber o que eu venderia, quando eu nem tinha parado pra pensar que nosso bota-fora teria valores ainda inestimáveis. Como não há tabela de preços para fotos de beca do maternal e coleção de fábulas que me fez descobrir o significado dos adjetivos "extraordinário", "magnífico" e "aflita", temo ter de vender minha alma enclausurada e por um preço bem abaixo do mercado.

O dia em que eu tirar os pés do chão e colocar nessa merda de estrada te arranco de onde estiver e com a roupa do corpo. Sem essa de João e Maria, mesmo com o risco de nos perder, me recuso a lembrar como fazemos para voltar.

Nunca volto atrás em rituais, espero que você faça o mesmo se a aquela mosca da coragem te picar primeiro.

Levo uma pilha de poemas nunca lidos antes e, se encontrar, meu velho walkman. Na mochila, tênis e camisetas, para combinar com essas caminhadas que levam a algum lugar ou a lugar nenhum.

Silêncio só existe no sono, e olha lá se você não roncar. Diz ele, que eu nem respiro enquanto durmo. Eu não disse isso a ele e nem a mais ninguém, mas é que morro por alguns segundos pra saber o que de fato compensa.

Viva as coincidências que batem a nossa porta ao mesmo tempo, mesmo quando estamos em silêncio, cada qual com seu fantasma, que de longe me parecem tão idênticos...

5 comentários:

Anônimo disse...

várias coisas fazem salvar um dia - não este - mas um texto seu nunca deixará ser a melhor de todas elas. vai salvar a semana.
perfeito!

Anônimo disse...

Quando eu crescer,quero escrever como vc!rs
Eu sempre tento decifrar quem são os personagens anônimos dos seus textos...fico imaginando a porcentagem de ficção q há neles...
Sabe,acho q seria bem interessante, uma arquivo confidêncial seu,no programa do Faustão. =D

i love you Grazix!
=*

Anônimo disse...

Arturo Bandini??? Passarei o resto do dia e, provavelmente, o dia de amanhã, matutando sobre quem será este sujeito...de verdade, de mentira...de mentira porque de verdade e talvez não seja muito bom levar tão a sério....de verdade porque é só mais uma mentira que a gente conta "pra saber o que de fato compensa".
Verdade ou mentira; ficção ou realidade, que importa se foi você quem disse??

Diego Assunção disse...

Arturo Bandini? Pergunte ao Pó.

Ventura Picasso disse...

Só vc Grazzi: "Levo uma pilha de poemas nunca lidos antes", ou "cada qual com seu fantasma".
Acredito que suas noites são passadas em claro. E claro, produzindo sonhos com as pontas dos dedos das mãos que acaricia uma ilusão...