terça-feira, 29 de abril de 2008

TREM DAS CORES

Compro: Zebras new age, tamanho Nelson Ned, encontradas aos domingos em rincões da Noroeste, ao lado de um homem de coletes que leva em uma das mãos um cabide com figurinos semi-originais de Jackson Antunes, usados em qualquer novela da Globo, e arrasta com a outra, a zebra irresistente a dias chuvosos.

Essa é a foto tirada em frente a casa da vó Florinda, a avó do Cássio, lá pelas bandas de 80, num momento típico na vida de meninos e meninas de interior, que foram clicados em cima de pequenos pôneis vestindo modelo risca-de-giz. E ele tá se sentindo Jorge, trocentos e dez anos depois, mesmo que o seu cavalo nunca tivesse sido posto de molho no Omo e finalizado na Cândida.

Mascates vestidos de homens de circo riscavam os cavalinhos com carvão, emprestavam roupas de faroeste às crianças e cobravam alguns cruzados novos pela foto que logo ganhava moldura na sala de visitas ou ia viver pra sempre aprisionadas naqueles binocúlozinhos de ver foto menor que 3x4. (vide bota de couro)

Talvez no fim, todas as conclusões tenham um ponto de partida tão improvável quanto um senhor de bigodes grisalhos e empresário do ramo automobilístico, disputando uma partida de golfe com a camisa pólo pra fora da calça.

- Naquele tempo, a casa dela ainda acompanhava as cores da moda. Era tudo mais bonito. Os fuscas de cores variadas, as geladeiras.
- Tudo colorido e abarrotado.
- Hoje em dia é tudo combinando. Chega a ser sem graça. É tão simples essas cozinhas planejadas, padronizadas. É por isso que a mulherada hoje sofre de depressão. É por não ter uma geladeira vermelha e um fogão azul, combinando com uma mesa de madeira de lei coberta com uma toalha de bolinhas feita do mesmo tecido que o marido trouxe do porto pra mulher costurar os vestidos e a saia rodada...

Eu vivi numa cozinha almodovoriana até as Casas Bahia existir. Geladeira, fogão, mesa, cadeiras, batedeira e liquidificador vermelho-batom.

A alface, o bolo de cenoura e as bananas da fruteira não causavam mal estar, abriam o apetite. Naquele tempo, ainda não fazia sentido em mim, como naquela personagem sartreana, um vestido azul anil não querer se sentar sobre uma poltrona verde-espinafre.

(a arte das fotos esticadas)

5 comentários:

Renato Rodrigues disse...

O interior era uma um mundo paralelo, tudo era atração, por mais simples que fosse e por mais conservadora que fosse a família, não resistia as tentações, as "novidades" que sempre passavam na rua. Para os pais era uma chatice mas para as crianças...
Ha esse texto me deixou nostálgico. Me fez lebrar da velha geladeira vermelha que combinava com o TL do meu pai..
E pra fechar, vc já trocou garrafas vazias por pintinhos?

Anônimo disse...

E os anos se passaram enquanto eu esquecia do burrinho, do fogão, da geladeira, da minha história, esquecendo quem fui, o sorriso que eu era já não sei se sou...se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi rsrs ops mas isso também é passado

Zemarcos Taveira disse...

Finalmente, minha blogueira amiga está se dedicando ao seu cantinho. Vou passando sempre aqui para dar um oi, viu. Beijos e volta logo para a turma, mulher sem umbigo... rs rs

Anônimo disse...

..engraçado, São Paulo "capitar" anos 70 também era interior!!!
diz uma coisa estes aparelhos todos e mais o botijão de gás tudo dentro desta "cozinha almodovariana",usavam "roupinhas"??....rsrsr;;;

Bjs procê!!!
(vê se aparece lá na trama pra "parpitar"..)

Anônimo disse...

Eu tenho uma foto no pônei à risca-de-giz.

Não mostro nem sob ameaça de morte!

Bjs!

Sobrinho do Misael, como sempre!