quarta-feira, 9 de abril de 2008

BAMBOLEIO

Peguei um inseto transando com a letra O do meu teclado.
Limpei com álcool.
Tenho nojo de porra de inseto.
Tenho mais nojo ainda de inseto que rebola.
Se tivesse muito dinheiro, aplicaria até minha moeda número um numa fórmula que acabasse com essa espécie até na forma empalhada ou aprisionada naqueles cinzeiros macabros.
É a segunda vez que topo com um inseto com quadril de Sidney Magal.
Da outra vez, ele deu uma de Maurice Béjart na frente de um ônibus inteiro.
Fiquei ruborizada de ver aquele bicho laranja e diminuto se masturbando na minha janela.
Ele se comia com seu próprio sexo. Era de encaixe, tipo aquele breguinaite (essa dói, mas é melhor do que dizer que é um casulo) que vem dentro do kinder ovo.
Eu nem precisava dizer que aquele bicho não me pertencia, que não era eu a responsável por ele, mas mesmo assim ele me constrangia por estar ali perto de mim.
Era como um desabusado prestes a fazer aquela homenagem ali do lado.
Não tem nada a ver com você, mas ao mesmo tempo tem.
Bem, não estou dizendo que o bicho estava tarado por mim, longe disso.
Nem sei mais o que estou dizendo.
Esse sexo à mostra, sem uso oportuno me deixa nervosa. Nervosa como fico com copos d’ água perto de mim.
A sensação era a mesma de quando eu via aquela trinca de porquinhos de toalha no Ratimbum.
Nem mesmo as cenas mais tórridas de Sônia Braga na pele de suas baianas poderia incitar mais vouyerismo que aqueles suínos se esfregando com bundas enormes e fuças de prazer.

Nunca sei o que fazer com insetos com ereção.
Levo mais jeito com os cachorros anfitriãos que enrabam canelas ainda na porta da sala.
Esses insetos que trepam me constrangem mais do que uma sala cheia e um casal gemendo no quarto ao lado. Mesmo que esse casal seja parente de primeiro grau.

Bem feito, o bicho foi gozar com o Machado de Assis, que estava no marcador de livro que eu usei pra expulsá-lo do azul celeste do meu quarto. Assim é bom porque aprende um pouco de literatura. E tomara que tenha um HPV e se espalhe mais que ebola pra a sua raça de pequenos pervertidos.

Porra, ainda se fosse o Scroll Lock.

Tirei o livro da estante e abri direto e reto na página que eu queria. Não que ela tivesse viciada, pelo contrário, as páginas sem cola e amarras estão dentro de uma caixinha de papelão com laçarote roxo e aquelas iluminuras que eu quero na parede da lavanderia.

Nas férias, toda tarde eu via a lesma no quintal. Era a mesma lesma. Eu via toda tarde a mesma lesma se despregar da sua concha, no quintal, e subir na pedra. E ela me parecia viciada. A lesma ficava pregada na pedra, nua de gosto. Ela possuíra a pedra? Ou seria possuída? Eu era pervertido naquele espetáculo. E se eu fosse um voyeur no quintal, sem binóculos? Podia ser. Mas eu nunca neguei para os meus pais que eu gostava de ver a lesma se entregar à pedra. (Pode ser que eu esteja empregando erradamente o verbo entregar, em vez de subir. Pode ser. Mas ao fim não dará na mesma?) Nunca escondi aquele meu delírio erótico. Nunca escondi de meus pais aquele gosto supremo de ver. Dava a impressão que havia uma troca voraz entre a lesma e a pedra. Confesso, aliás, que eu gostava muito, a esse tempo, de todos os seres que andavam a esfregar as barrigas no chão. Largatixas fossem muito principais do que as lesmas nesse ponto. Eram esses pequenos seres que viviam ao gosto do chão que me davam fascínio. Eu não via nenhum espetáculo mais edificante do que pertencer do chão. Para mim, esses pequenos seres tinham o privilégio de ouvir as fontes da Terra.
Manoel de Marros. "Memórias Inventadas: A Infância". São Paulo: Planeta, 2003.

11 comentários:

Renato Rodrigues disse...

Sexo é bom?
Foi bom pra você?
perguntas complexas e cheias de verdades inventadas.
Ouvi uma vez que sexo bom é o sexo selvagem
Se é verdade eu ainda não sei
Nunca me encontrei com um animal selvagem pra poder me explicar
e o Tarzan,
não fala a nossa lingua
O sexo anda assim mesmo
A cultura anda em segundo plano
Sidney Sheldon que o diga

"Ela pegou a sua clara e doce mão e colocou no crepúsculo viril de jack"

É minha amiguinha
até Machado de Assis entrou nessa orgia.

Anônimo disse...

Que coisa não...

Até então, eu nunca tinha lido essa palavra escrita em algum lugar: "Breguinaite" rs...

Nunca imaginei que um inseto chegaria a tal estágio evolutivo, mas como nunca duvidei de ninguém e de nada...Penso que, como a especulação de novas idéias em potencial na midia eletrônica está em alta, algo pode acontecer a partir deste episódio. Alguma espécie de pornotube para insetos seria algo a se pensar (como se chamaria isso? rsrs). Ou será que eles desejam algum tipo improvável de miscigenação em pról à união das raças? rs.

Brincadeiras à parte...

Me satisfaz ver que, existem ainda pessoas com habilidade para criar o que quiserem a partir de qualquer idéia ou fato, seja ele encarado ou indiferenciado e que pensam sempre mais do que poderiam normalmente pensar ao ver algo que pode parecer insignificante aos olhos da grande maioria, que sempre entitula tudo para que passe a ser menos evidente.

Anônimo disse...

kkkkkk essa do Sidney Shellllllldon,foi boa...Há muito tempo atrás, numa terra distante...um cara num chat pediu pra fazer sexo virtual comigo...eu ingênua...pura...sem malicia...não sabia o q tc,então lembrei de um trecho do livro do Sidney Shelllllldon q dizia:"introduzi seu membro rígido em minha boca." E aí ficou...
"Tempo esgotado mocinha, a aula de internet acabou”.
Ah, nem deu tempo de um cigarro pós!

"Faça amor, não faça guerra!"

Se os Lituanos e letões fazem,
Picantes pica-paus fazem,
Tico-ticos no fubá fazem,
Chinfrins galinhas afins fazem,
E jamais dizem não... pq os insetos não? Façamos vamos amarrr
kkk

Adoreiiii... Aliás, adoro tudo q vc escreve... A maneira como escreve, escolhe e coloca as palavras...

Ah sou suspeita!

=*

Anônimo disse...

totalmente Poulain!
=D

Loving Zem disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

To adorando seu traço 'cubano' a la Pedro Juan Gutierrez de intercalar o substantivo ou interjeição 'porra' em várias frases...

Anônimo disse...

poxa hahaha, nem preciso falar nada né dona grazi?

hahaha massa! adoro essa garota!

Anônimo disse...

O inseto gostava de gordinhas. Se estivesse em cima do "I" seria diferente. Tão pertinho um do outro... Vai saber... Se eu fosse comer alguem do teclado, eu comeria o "J", considerando que todos fossem também femininos... O "J" parece ser dinamico e sem frescuras. Além de ter um estilo sagaz. Daria para variar posições... Hehehe

Ventura Picasso disse...

Só vc para encontrar o Manoel de Barros nessa suruba na mais romântica paisagem que um prato de sopa de legumes, pós nascente solar, produz. Magnifica criação, se bem que o carinha anônimo na mensagem anterior, aquele ali, amante do 'J', é muito bom de lápis. bjussssssssssss

Anônimo disse...

ABAIXO O SEXO...ACIMA, O UMBIGO...
e no meio disso tudo, revolucionando a mesmice das janelinhas e a aparência sempre monótona das coisas, você.
Gostei demais da conta, sô!

Bjs!!!

Anônimo disse...

Gra, ainda bem que essa putaria toda foi no teclado do computador....
ja pensou se fosse em uma máquina de escrever remington, ou olivetti, sei lá... que bagunça ia virar... a fita ia ficar toda melada, teria que mandar lubrificar... quem sabe até entrar em curso no senac para aprender a escrever asdfg çlkjh qwert poiuy zxcvb nm,.;

mas pior que mosquito transando em cima de teclado, foi uma vez, meu finado cachorro bertordo, que mijou em cima de um código civil que tava aberto em cima da minha cama....

é bom que da pra colher o dna desse mijo e mandar prum laboratório de massachusets e fazer uma réplica né?