terça-feira, 11 de março de 2008

ISOLDA

E foi fácil se convencer de que não serviria para ser a mulher ideal nem para aquele sujeito de colete quadriculado e meia a aparecer no mesmo tom.

Passara a infância inteira descobrindo várias linhas de creme para ver se algum deles faria com que o nariz afinasse, ganhasse coxas torneadas e o cabelo fosse convocado para 30 segundos da Wella. Daí pensava em ir por partes: primeiro daria um jeito nos dentes, depois engordaria alguns quilos só na panturrilha e tomaria água de concha a cada 30 minutos para que ela se alojasse em seus seios.

Quando a preocupação deixou de ser essa, já tinha formas suntuosas, papo interessante e frases prontas para o que quer que seria. Fez se bonita.

Mas 15 anos mais tarde ainda não serviria para o pseudo-engomado. Menos ainda para aquele que todas corriam atrás. Nem todas, ela que encasquetara que ele era o ideal.

Sei lá, não sobrava beleza quando de pijamas e cabelo que dorme sem secar, babava enquanto escovava os dentes e às vezes saia um barulho quando tomava água, nada que fosse capaz de recuperar a finesse depois.

Mas quando ele chegasse sempre teria novidades, faria rir com um monte de dúvidas de como continuaria a letra de uma música que ninguém ouvia, de algo que estive pensando, mas ele também poderia se apaixonar quando trouxesse um achado qualquer e visse a intensidade com que me atiraria ao chão...

Convencida de que viveria só, planejou um filho para nascer homem, já havia decorado a escalação que fez do time o campeão, fez pose de grito no espelho para ver como se sairia durante um gol, e tomariam coca-cola (coca não, a mãe ainda carregava com poeira os conselhos de fidel) arrotando e ele iria achar que ela era a fusão do que queria como pai e tinha como mãe.

Porém aí ele já tinha optado pela outra, ela passaria horas em vão tentando saber de onde sairia a paixão. Deveria ser dela por excelência, mas não estava nos detalhes a diferença, ela nem tinha um português tão correto, e ele fazia questão, ah se fazia, cobrava erros de preposição, sei lá, bonita? Era bonita? Fazia o tipinho serei sua mulher ideal, sendo assim portava se como senhora dele, sem mais, criava programas que quase nenhuma outra garota queria, inventava gírias e turmas de amigos para disputar com a que ficou sem escolha.

Um comentário:

Anônimo disse...

P-E-R-F-E-I-T-O!