segunda-feira, 10 de março de 2008

DORALINDA

E foi fácil se convencer de que não serviria para ser a mulher ideal nem para aquele sujeito que esperou até aqui para arranjar companhia para noites frias e finais de filmes que não tem com quem comentar.

Sujeito este de pele finas hálito agradável, com modos muito minimalistas para um dândi que ainda cultiva discos aspirados toda quinta-feira, quando desempacota um long play “Maria Alcina”, que dá berrinhos quando atingida pela agulhinha, agora lustrada.

Aquele sujeito de adega em casa, com cartas variadas para suas companhias: prosecco para as damas incandescentes, uma versão mais adocicada para aquelas que usam cinta-liga e exageram no cumprimento da saia

E ela tentava se encaixar nas suas obsessões sutilmente prosaicas e demodês, como se não restasse piedade por parte de alguém que uivaria ao ver seus contornos regulares à meia-luz.

Mas ah...o pensamento atingia patamares longevos por aquele outro de toque intenso, boca que quer ficar, palavras decifrando ais. Meu Deus, como pudera ele tão daquele jeito sei lá, que a endoidecara com demonstrações parcas de si, de um amor que ela maquiara em personagens cretinas, fêmeas vorazes, tentando fisgá-lo a qualquer que fosse o custo, querendo esconder seus carnês, seu aparelho dentário usado antes de deitar, suas manias que a pintavam menina, seus detalhes que por vezes afastavam-se dele, sua barriga que doía uma dor de adolescente querendo chamar a atenção, simulando papos em cenários simulacros, a oração deveras perdoada sabe-se bem Deus que saia dela, tão cética.

Oh, quem quer que fosse, responsável por fazer as coisas tornarem-se reais, torrente de bondade alheia... ela, mesmo que não servisse nem para o sujeito que agora abnegava suas decisões políticas, tomado por um servilismo diante daquela que estava convencida de que não serviria nem para sua hipocrisia a custo de banana, achava-se no direito de desejar aquele do cheiro de sempre, cenho conservado de traços marcantes e personalidade que envenena no antes, mas acalma no depois.

Ah, e ela voltara às mesmas percepções de quando começara a ler “A Normalista”, tendo a como a narrativa que mais pudesse se aproximar das HQs de Zéfiro, distantes demais para serem adquiridas... quanta bobagem, mas é que a partir dali todos os outros foram destruídos e só sobrara este, este que previa, emoldurava e arranjava respostas para os diálogos e sonhos, recorrendo a fórmulas já gastas para firmar pensamento em que pudesse tê-lo, com suas formas que tudo beirava a perfeição, de palavras proferidas como desconhecidas e que meia dúzia delas ainda martelavam como juras de amor lembrando Bocage, Byron ou qualquer que fosse o inspirado da vez.

Nenhum comentário: