domingo, 28 de junho de 2009

JÔ OLIVEIRA

Ele era daqueles velhos que a gente pensava que nunca ia sentir falta quando batesse com as caçuletas. Ralhava porque a gente guardava os bigatos de estimação na horta e gastávamos a água da bica lavando os porcos que estavam da cor do terrerão.
Todo dia ele falava:
- Espera chover pra lavar a roupa, muié. Espera chover pra tomar banho, menina. Que mania é essa de tanto beber água? – dizia ele.
Até quando ele tomava o remédio da pressão, fazia cuspe na boca pra não gastar água tendo que engolir o comprimidinho, que ele cortava em quatro partes pra durar mais. O povo lá do Imbé chamava ele de muquirana, nem sei o que é isso.
Um dia ele ficou com as vistas fracas, porque todo dia ele esquecia e relava a cabeça bem no pé de jabuticaba que tinha piolho de galinha, quando ia entrar na casa.
Daí a Candinha falava:
- Ahhhhh, o vô vai botar ovo na cabeça. Vô, cria um pintinho pra mim debaixo do seu chapéu?
E ele sempre no seu boquejar de velho que tá bravo:
- @#$%*&%$#@ - resmungava.
Um dia meu irmão fugiu de casa e minha mãe o encontrou almoçando na casa do velho. Ele tinha mandado fazer polenta com alface. Minha mãe falava que era porque ele não queria gastar o frango, mas eu achava mesmo que ele tinha medo que os frangos acabassem e ele tivesse que fazer ninho em cima do chapéu.
Um dia, dona Rosa acordou faceira como de costume e não ouviu ele boquejar. A história que a gente sabe é que Deus lá de cima falou que se ele morresse aquele dia não ia precisar pagar a viagem e nem o aluguel da casa celestial. Foi por isso que ele foi embora sem dar tchau.

Folha Caipira
São José do Rio Preto
Há Alguns Anos

Um comentário:

Anônimo disse...

chegando no céu, mal entrou pelo portão principal encontrou Deus e se apercebeu na hora de que ele era mineiro:

-- Chegou direitim,né, meo véio? conforme o combinado não tem custo pra pagar por viage nem estadia. Mas decerto lhe disseram que aqui paga pra dormi e pra acordá. se acordá com sede danou-se, porque também isso por aqui se paga! pela vista da bica e pelo copo d'água...

gostei do seu texto!
abração!!
Nhá Barbina