quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

CONTANDO NOS DEDOS

Daqui a três meses, durante 45 dias, só depois de seis meses, válido por dois anos, depois do dia 25, são vinte e quatro parcelas, mais dez sessões. Tem alguém olhando e achando graça do esplendor da dor.

- o homem com uma dor é muito mais elegante/caminha assim de lado/ como se chegando atrasado andasse mais adiante - leminski disse, itamar repete.

O Du ligou. Voltava pra casa caminhando. Lembrou do pão. Pedimos das nossas famílias. O presente da Duda continua embrulhado. Mandamos lembranças a eles. Combinamos o café no meio da tarde. É o mesmo papo da semana antes deste carnaval. A última vez que te vi, Du, você usava a camisa do Brasil num domingo bem de tarde, a Duda ainda não era da família. André, Douglas, Dani, Luísa e Kauã. Onde você estava em junho de 2006? Existem domingos com jeito de terça, aquele era. Esse tem aura de macarrão com tubaína e bolas azuis de tristeza.

Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre
Em caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa, coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas, viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre

(itamar)

6 comentários:

Anônimo disse...

Acho sim comovente o modo como você escreve; surpreendo-me com cada linha (acompanhadas de Itamar então, nem se fala...) com os sopapos e afagos que nunca vêm sozinhos, tem sempre uma dor aqui um prazer acolá...
...é isso!

Anderson Augusto Soares disse...

Quanto dinamismo, Graziela! Eu acho que não consigo te acompanhar... O que poderemos dançar?

Anônimo disse...

pouco açúcar, pode ser?
um bj

http://www.youtube.com/watch?v=rHT0UFJPWw4

Anônimo disse...

Nossa, isso merece o Funeral Blues do Auden, mas invertido:

Liguem todos os relógios, deixem tocar os telefones
Permitam ao cão ladrar para a noite
Destampem os pianos e surrem os tambores
Tragam para dentro o alegre bufão
Deixem os aeroplanos circularem por suas cabeças
Escrevendo no céu a mensagem: Eles estão vivos!
Coloquem um arco de crepom em volta dos brancos pescoços das pombas
Deixem os policiais de trânsito vestirem luvas vermelhas de algodão

Nós somos o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste
Somos a semana de trabalho e o domingo de descanso
Somos a manhã, a noite, a voz, a canção
Eu pensei que aquela alegria não fosse durar para sempre: eu estava errado
As estrelas são mais do que desejadas agora
Coloquem no céu uma por uma
Desembrulhem a Lua e acendam o Sol
Encham novamente o oceano e replantem as florestas
Pois agora tudo é necessário!

Nome composto.
Ps. O original é um discurso sobre a morte. Tomei a liberdade de invertê-lo.

Anônimo disse...

hã?

Anônimo disse...

ficou bonito esse
poema invertido/subvertido do
comentário aí de cima.

bjs a todos
sobrenome: nome