segunda-feira, 3 de março de 2008

SERÁ QUE ELA É LOUÇA?

- Ei, que medo daquelas fotos.
- Elas constrangem, né?
- Coisa mais estranha, cheguei a zonzear. Ow, tira elas de lá.
- Nem pensar, pare de olhar se for capaz.


Fiquei cinco minutos inexatos olhando pra aquele pedacinho de foto. A menina ruiva, aquela roupa vintage, aquele cenário de sabão em pó Minerva, tudo aquilo hipnotizava. Corri duas folhas e voltei pra menina. Olhei, olhei, olhei e olhei. Ainda não tinha certeza se desejava ser ela. “O Rose Garden”, de 2001, soube tempos depois.

Depois também soube de mais coisas. Ai, que coisa. Por que elas usavam vestidos parecidos com os da minha avó e sentiam-se princesas assim? Tá, elas não sorriam descaradamente, com ar de barbies do Mundo Mágico de Beto Carrero World, mas tinham um riso contido de quem tem que ficar daquele jeito até terminar de posar.

Pareciam porcelanas também. Pareciam. Pra ser ainda mais tudo sentavam-se em móveis de início de século, ai que raiva desse jargão dito cento e três vezes pelo dono do antiquário. Não que eu gostasse de porcelanas e de peles que de tão finas tinham veias aparentes, mas a menina loirinha usava grampo no cabelo e mantinha o corte na altura do queixo. Um chanel clássico com toque de ramona, adaptei.

O que havia de mais intrigante naquelas imagens perturbadoras? Tudo remetia às travessuras mais escondidas da infância. Da brincadeira de médico e salada mista com o vizinho da frente, o colo estranho que o tio oferecia, a alegria de ter aquela boneca que fazia coisas que ela fazia...aquilo tudo. Eu vi, será que alguém também via?

Da alemã Loretta Lux, que mistura várias técnicas pra conseguir aqueles efeitos, consegui pouco, há parcas traduções por aí. “A infância guarda certa aura de terror, mistério, sexualidade”, já disseram. E eu gosto tanto da estética que por ora nem preciso ir adiante, só vou atrás do resto depois que enjoar de ver o que estou vendo.

Criei legenda pra todas elas: “Sim, como não” (uma japinha linda e que pergunta encarando), “Modinha da Capa” (um cabelinho que estava em alta na novela das oito), “ Joana e Maria sob um sol poente” (duas gemeasinhas com roupas executivas) , “Almofadês” (um dandizinho em miniatura), “Sabão Minerva - Gramados e Céu de Efeitos” (uma espécie de boneca em pose redentora), “Chá Beneficente” (idênticas trajando vestido de bolas), “Valorização de Mobílias Início de Século” (já foi dito).

Ao lado da parede com motivos de galinha d’ angola terão mil impressões dessas.

3 comentários:

Unknown disse...

Não me convidaram mas eu vim dar uma olhada mesmo assim.
Bjs linda.

Anônimo disse...

Querida, às vezes eu acho que você não é deste mundo. Ainda bem!
E a melhor legenda é a da japinha. Sim, como não?!
Obrigada pelo convite, voltarei sempre.
Um beijão.

Thaís Morrison, disse...

Grááá, seu blog tá mais que tudo pra variar... e eu já estava morrendo de saudade disso tudo que me inspira tanto... já mudei o link do seu blog lá no meu...
Besosss