sábado, 7 de fevereiro de 2009

CREAM CRACKER

Deram uma roupa transparente e com veias de lagartixa para um anão policial me espiar. Ele se finge de moribundo. Descobri isso quando ele saiu para ir ao banheiro e não estava a postos quando eu surgi no mesmo ambiente que ele. Voltou pouco depois que eu voltei do banho. Inerte. Atrás da sandália 37 da Iara. Quer que eu acredite que uma de suas patas foi amputada durante a operação. A noite ele corre beijar minha boca que dorme e não sente suas patas macias andar sobre ela.

4 comentários:

Anônimo disse...

A vigilância é sempre constante. Tento me virar com o inconveniente gato de Alice, mas seu sorriso é ainda denunciador.
Carlos Eduardo

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Flor, saudades de ti, em breve estarei de volta! Amo vc !

fredi disse...

Para alguém que tenta ser especial até no dia que nasce, o único que a cada quatro anos vira penúltimo... Num mês que não sabe contar até trinta, até que a senhora é o que é.

segue uma coisa da Clarice, que está no blog do Nassif hoje.

POR NÃO ESTAREM DISTRAÍDOS

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.