quarta-feira, 19 de março de 2008

COMO ENCANTADO AO LADO TEU...

Daqui a pouco é outono aqui. Sei que aí também será. Talvez você viria me ver se soubesse que estou desde às sete tentando dar seqüência ao enredo preguiçoso que vivemos trancafiados naquela sala fria, sem som e com paredes que agora lamento por não ter dado mais atenção. Mas deixa pra lá, essas paredes são sempre tão iguais, são capazes de ser a mesma que confinam três personagens sartreanos no inferno dos outros.

É que já é quase outono, porra. Já foram duas estações e meia desde que a história ficou inacabada, desde que você viu sua moça encantadora despedir-se apressada porque os olhos dela ficaram daquele jeito que você tinha medo. Você até tentou um assunto casual, que a magoou a princípio, mas ela também viu seus olhos com o mesmo pesar dos que surgem no terceiro ato.

Tínhamos uma música, a capa de um livro, três mudas de roupa de cada um para lembrar e nenhuma confidência desesperada de quem age com paixão pela última vez.
Não sobraram promessas para o dia seguinte e talvez eu lamentasse sua irresponsabilidade em não criar ilusões. Essas lições breves e emblemáticas devem ser próprias da alcova. Lembro de todas. Foram poucas ditas em frases com sujeito, predicado e um verbo de ligação, sem mais. Você pronunciava cada frase como se fosse uma sentença. Agora eu tenho a Nana assoprando a mesma canção desde às sete, um tímido frio de outono e um copo d’ água que me deixa nervosa enquanto não estiver seco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Seu texto no cair de uma tarde típica de outono, é altamente perturbador... Saudações moça

Anônimo disse...

Cheguei ao limite. Percebo que poderei perder-me a qualquer momento.

Além disso, perdi muita gente querida, amigos e parentes. Eu, que tive uma atividade de reflexão, rodeado de pessoas que amava, me vejo cada vez mais solitário. Quando vivemos uma crise assim, a sabedoria vai embora e perdemos o rumo de nossas reflexões.

Saí à procura de um tipo de sabedoria que me ajudasse a suportar a dor e compreendê-la com serenidade.

Abraços de seu distante, e cada vez mais distante, amigo.