segunda-feira, 30 de agosto de 2010

do que eu nem sei

o cheiro da farinha assada. as bolachas pulando da assadeira para o paladar. o resgate da palavra graveto. roupas coloridas para espiar no varal. as coisas por fazer durante a tarde. e por que me falta a paz?

estereótipos & combinações

pra que desespero? se sempre fará par com o fim um pano acetinado, mesinhas aleatórias e um bolero assoviado pelo tipo triste em torno do balcão.

domingo, 4 de julho de 2010

O QUE TEM NO RALO DO MUNDO?

- Linhas de camiseta, restos de sabonete, amores pela metade, desejos remoídos, e tufos de cabelo? Meus tufos de cabelos negros foram sugados pelo ralo...e eu fui junto.


- No ralo do mundo pode ter tudo isso que você falou, os sentimentos que escorrem não pelos olhos, mas pela alma, pelo desconforto, frutos de um cotidiano que nos esmaga e nos engana a cada tentativa de vencer....tá bom assim?


- Nessa temporada, fui viver num ralo do mundo, absorvendo tudo que é cuspe, catarro e porra que cai de cima. Até o sangue de feridas que nem sei a quem pertencem cai sobre mim. Quer saber se estou na fossa? Sim, estou no ralo da fossa, filtrando tudo quanto é desajuste que vem de cima.

FLICTS

Uma parte de mim é esse Rimbaud, da temporada ardendo em chamas. Um ano para mais daquelas angústias engavetadas. É assim, tem sido assim. Desanuviei a vida pelo esmalte cordirosa, a fita verde e olheiras tom pastel. Botaram tom na dor, que sorriu verde em cor.

ENTRE NÓS, SÓ SEXO E DEUS

eu me dou com essas feridas abertas
com essa fratura exposta que eu pinto com hb
com essa textura que arrepia seus pêlos,
eu vou pintar essas ranhuras com pilot número cinco
sempre me dei com pequenos estragos ofuscados a media-luz
como a milonguinha do astor
é, o resto são complementos da sala de estar.
Aqui na Lua, as cabeças se acotovelam num headbanguer de nona sinfonia de luidwing van. Talvez isso seja o que chamam de céu. Tudo é meio céu, tudo tem o pé no inferno, tudo balança como um barco ébrio de Rimbaud. Tanto faz. É só para saber crer que o céu é a ternura que faz par com a travessura.
um minuto de silêncio por todos os tiros interrompidos contra o escuro.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

quarta-feira, 28 de maio de 2008

UMA COISA QUE NÃO TEM NOME II

Dez/2007. Nesses dias pela manhã, de verdade, entrei na tua cegueira. Apoiei-me em teus braços com meus passos lentos. Tateei seguindo o teu olfato. Foram trinta dias sem você e quatorze lado-a-lado. Eles queriam comer, eu queria dançar. Eles queriam se banhar, eu não queria ver a barriga aberta. Eles queriam voltar pra casa, eu queria sair da minha. Eu pontuei todos os parágrafos. Depois apaguei todos os rascunhos. Eu vi teu choro. Você provocou o meu, o dela, o deles.

...









essa coisa é o que somos

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Vivaldi

Morri ainda agorinha, com o frescor e a refrescância de um sabonete Vinólia .‏

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A VALSA DE CASIMIRO

Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co'as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranqüila,
Serena,
Sem pena
De mim!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
— Eu vi!...

Valsavas:
— Teus belos
Cabelos,
Já soltos,
Revoltos,
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias,
P'ra outro
Não eu!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
— Eu vi!...

Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem ?!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas,..
— Eu vi!...

Calado,
Sozinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!

Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!

Quem dera
Que sintas!...
— Não negues
Não mintas...
— Eu vi!

Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então;
Qual pálida
Rosa
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida.
No chão!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!

Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
Eu vi!

quinta-feira, 18 de março de 2010

PAIXÃO DO DIA SEGUINTE

Naquele tempo, as paixões de Ernesto nasciam das espreitas do banheiro, do buraco da fechadura, nos balcões dos bairros boêmios, lá pelas sete da manhã.

Como faziam os velhos malandros barões da ralé, ele não dava a parte do santo enquanto não via passar à sua frente raparigas com lápis de olho dormido, batom gasto de sabe-se qual boca, a voz rouca por obedecer a tantos pedidos de ais. Era o momento que ele mais gostava delas.

- Faço qualquer coisa por pequenas com olhos borrados do dia seguinte, meu chapa. Minha adega de mel com raiz, meu corte de cabelo bossa nova - frente militar e laterais à maneira do banquinho e do violão- e o pôster com Zico Claudio Adão.

Todos os dias, do outro lado da rua, surgia Rita, 24, rapariga em flor, convencida de que não seria a mulher ideal nem para tipos que gargarejam ao som de Anapion, ainda compram Denorex toda última terça do mês e engraxam os sapatos na rua. Ela sempre ferrava o humor da semana por ter que passar por aquele bar de homens ébrios, que a enjoavam feito um barco de Rimbaud. Passava sem ser vista e sem se fazer notar por Ernesto.

Num dia de caixa errado no banco, depois do expediente, Rita parou para fazer como faziam aqueles que ela odiava prestar atenção. Parou no botequim da esquina e pediu uma, desceu duas, pediu mais. Tinha se debulhado em lágrimas pelo caminho. O rímel passado antes de sair de casa, às nove, desbotara como uma chuva que lava desenhos de tijolos feito em calçadas. Pediu a quinta, a sexta e alguém ao lado disse que pagava a sétima.

Era Ernesto - feliz por ver de tão perto os olhos esfumaçados de preto, o batom dividido entre o copo e sua boca, a voz rouca de tentar se explicar-, disse que era por sua conta.

No décimo copo dela, no décimo quarto dele, ele disse sem cerimônias, o que tinha esperado pra dizer todas as manhãs, lá pelas sete, quando uma delas parasse:

- Não quero mais esse negócio de você longe de mim.

Saltando-se da embriaguez que a tomava correu para o banheiro para ganhar a dignidade daquele homem. Limpou boca, lavou olho, usou Anapion, assentou o uniforme no corpo. Voltou correndo para o balcão para dizer que sim.

Ernesto, que já pagava a rodada pra comemorar o enlace, parou no meio do caminho com a dose do santo assim que a viu. Aprumada, não passava de uma columbina na quarta-feira de Cinzas, sem serpentina, sem fantasia. A dose do santo acabou de descer atravessada, e ele deu as costas. Tinha muitas manias. Ficar sozinho era a que ele mais alimentava ali de frente pro balcão.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

MUCHACHA BERNARDA

Há falsificações de BIC em quais versões de cores e preço? O teto de Kika é a chance permanente de encontrar desenhos no céu azul anil que está lá fora. Parece que as visitas chegam como se nunca estivessem estado em Bernarda Alba, sul da Espanha. Você pôde notar? Agora, de uns dias pra cá é como se Bernarda Alba não tivesse se esfarelado junto com as suas possibilidade. Sabe uma casa branca, decorada com cerca branca e cortinas em tom claro? Bernarda e Davis, não o Miles, mas o Jim, pai daquele gato gordo e preguiçoso que dorme no quarto que fica entre banheiro e cozinha. Voltando à Bernarda, nem me despedi e acabou a saudade. Deixei o chaveiro com as chaves. É como se nunca tivesse subido um lance de escada para chegar a casa que dividia com Sinnead, uma coca zero chocando e um Stileto, modelo anos 90 da perfumaria. O início e o fim tem ponto de encontro numa circunferência. Com um compasso em mãos, meu nego, você fecha esse ciclo, círculo a qualquer momento. Vamos ver o dia.